Um Amigo da Casa me enviou essa entrevista, mais disse não saber o nome do tradutor... Ela foi feita em Fevereiro de 2008. Caso o Tradutor da mesma a veja, por gentileza entre em contato para que possamos dar o credito. É uma entrevista maravilhosa e esclarecedora, rica em detalhes que pode ser muito proveitosa. Fiz algumas marcações no texto. Gaven Bone da muita ênfase ao “Preste Atenção” espero que gostem.

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Legal ver vocês dois outra vez de volta à Holanda! Foi praticamente um ano atrás que vocês estiveram aqui. Durante o workshop em Amsterdam "Bruxaria e Paganismo Irlandês Tradicional" com Stewart vocês falaram sobre a Bruxaria no passado e atualmente.
1 - Vocês poderiam nos dizer algo mais sobre as mudanças que testemunharam através dos anos?

Janet: Provavelmente a mudança mais importante tem sido a conscientização da necessidade de nos tornarmos adultos. Em 1970, quando Stewart e eu fomos iniciados na Arte, a idade física e mental num coven eram moldadas pelos elders. Havia pouco encorajamento para pensar por si mesmo. Nós estávamos no coven de Sanders a cerca de um ano. Nós então sentimos que era necessário ampliar nossas habilidades mentais; Stewart estava já nos seus 50 anos, e eu estava no início dos meus 20 anos.

Conhecemos outras pessoas de outras tradições e surgiram problemas sérios a respeito do progresso dentro da Arte. Isso tudo era muito inocente e nós éramos como crianças no jardim de infância. Mas Stewart era um adulto viajado, incluindo uma visita a Auschwitz. Ele estava envolvido na limpeza física do pós-guerra na Europa. Eu, como uma ex-hippie dos anos 60, procurava ver a Bruxaria Moderna movendo-se em direção a um universalismo para além do jardim de infância.

Deixamos a Inglaterra em 1976 e nos mudamos para a Irlanda. Naquele tempo, usávamos diretrizes Alexandrinas/Gardnerianas no coven. De repente, contudo, estávamos em meio a uma cultura diferente. Começamos a nos familiarizar com a cultura da República da Irlanda, aprendendo sua história, pesquisando as raízes pagãs irlandesas. Realmente existe pouquíssima diferença entre os povos tribais célticos e os saxões, povos escandinavos teutônicos. Quanto mais estudávamos documentos históricos, mais percebíamos como a moderna Wicca era de verdade.

Muito da "moderna" Wica é baseada em superstições medievais e nas raízes do Paganismo. Grimórios, enochianos e até a Kabala não têm relação de espécie alguma com NOSSOS ancestrais. Nossas verdadeiras raízes pagãs ancestrais são de origem xamânica. Todos os livros que temos escrito são um procedimento para a descoberta dessas raízes. Nossa prática é de longe muito mais xamânica. Nós acreditamos verdadeiramente que o conhecimento ancestral é passado oralmente e pela experiência muito mais do que através de leis. Algumas leis da Wica moderna são necessárias ainda hoje, mas elas não são dogmáticas, são leis do senso comum.

Gavin: Um dos problemas para muitos pagãos é que eles vieram de religiões patriarcais, que dão ênfase na "religião do livro": Cristianismo, Judaísmo, Islamismo. Infelizmente muitos trouxeram bastante dessa cultura para dentro do Paganismo sem perceber. Por isso nós percebemos muita ênfase de algumas pessoas dentro da Wicca a respeito da impotância do Livro das Sombras; ele se tornou uma espécie de "evangelho". O mesmo, naturalmente, tem acontecido com as Leis. Muitos wiccanos dão às Leis da Arte a mesma importância dos Dez Mandamentos, quando elas podem ser adaptadas ao senso comum.

Janet: Leis do senso comum são bem simples: elas existem para a proteção e a lealdade da casa, família e professores aos quais você deve respeito. Muitas tradições hoje tornaram-se rebeldes. Eu acredito de verdade que a antiga Arte, como era genuinamente praticada, tem uma ancestralidade xamânica baseada no sacerdócio.

Gavin: Nos anos 60, o movimento pagão estava na sua infância, galgando os primeiros degraus nos anos 70. Dos anos 70 aos 80, era como uma criança aprendendo a andar. No final dos anos 80 e 90, assistimos ao choque da adolescência, com o aparecimento de conflitos internos. Como uma criança descobrindo a sua própria personalidade, o movimento pagão teve que encontrar seu caminho para a fase adulta. Enquanto organizações surgiam, foi também uma época em que muitos charlatães apareceram e floresceram. Embora houvesse controle social para impedir tais pessoas de assumirem características rebeldes típicas da adolescência, era necessário um progresso que pudesse fazer com a fase adulta se instalasse.

2 - Vocês crêem que traumas e conflitos sejam necessários?

Janet: Embora eu não veja realmente Alex e Maxine como meus pais espirituais, nem Doreen Valiente ou Eleonor Bone ou Ruth Wynn Owen como minhas irmãs espirituais, tenho amado e cuidado muito deles. Eu posso vê-los (e a outros na Arte) como professores. Mas no fim de meu próprio aprendizado espiritual na Arte, meus próprios ancestrais e o Senhor e a Senhora serão meus guias. Isso não deprecia nenhum dos acima mencionados - isso significa que cada um deles desempenhou um papel importante na minha educação como mulher.


3 - A Arte tem tido um efeito semelhante sobre você como homem?

Gavin: Tem havido uma mudança definitiva da liderança masculina para uma liderança feminino/masculina. Eu creio que dos anos 70 em diante houve um surgimento real de equilíbrio. Lentamente tem havido a integração e a compreensão do feminismo. Esse desenvolvimento ocorreu em ambos os setores, social e dentro dos círculos da Arte. Tem havido um surgimento de novas tradições nos últimos vinte anos. Em meados dos anos 70, você podia visualizar quatro tradições principais. Agora existem várias dúzias.

Num sentido, trata-se de um fenômeno típico natural e a Wica está apenas seguindo as leis naturais da evolução. A Natureza ama a diversidade, o crescimento e a mudança. Espécies (e tradições) que não têm se adaptado, não têm sobrevivido e estão agora extintas. Essa linha necessita de flexibilidade, e para uma grande maioria de pessoas precisa ser dinâmica, o que usualmente significa ser visto como rebelde por alguns. Hoje o maior desafio é descobrir o verdadeiro mistério masculino. Por muitos séculos tem havido uma dominação masculina.

Durante as últimas décadas as mulheres têm sido aos poucos reconhecidas em seus direitos e a Deusa está sendo reconhecida como uma força verdadeira. Mistérios femininos têm sido examinados e experimentados, e a Deusa tem sido restituída ao seu lugar de direito. Contudo eu acredito que as sacerdotisas do século XXI necessitam reconhecer os sacerdotes para afirmar seu lugar e descobrir seus verdadeiros mistérios. Isso é certamente a verdadeira espiritualidade adulta? Em essência, é um movimento de conscientização em direção ao poder pessoal e responsabilidade.

4 - Janet, você acredita que Stewart poderia ser da mesma opinião?

Janet: Bem, Stewart é crédulo ao dizer que "a Arte hoje é parte da aldeia global". Ele foi um oficial durante a Segunda Guerra Mundial. Antes seu pai tinha lutado na Primeira Guerra Mundial. Stewart cresceu numa família que seguia a Ciência Cristã. Após sua provação e os horrores de ambas as guerras, ele tornou-se um "agnóstico interessado", bem como teve interesse nos ideais comunistas. Quando ele conheceu Alex e Maxine, as visões dele "ligaram-se" com as suas de um ponto de vista cultural. Para ele, bruxaria era uma religião que fazia sentido. Isso o fez sentir-se otimista. Ele sabia que as coisas podiam mudar.

Mesmo agora, aos 81 anos, ele tem grandes esperanças de um futuro longo para a Arte. Ele fica encantado com cada inovação - especialmente a Internet. Ele crê que ela é talvez o mais importante desenvolvimento na Arte desde 1951. As pessoas precisam falar, se comunicar, ouvir. De repente a Arte não está confinada numa pequena aldeia, mas faz parte da aldeia global onde fronteiras internacionais estão sendo quebradas, algo que Gerald Gardner provavelmente nunca visualizou, não podia visualizar.

Gavin: No passado o Paganismo estava "com o pé atrás" com o Cristianismo - agora há um grande movimento rumo à cooperação ecumênica. Há uma nova polaridade entre fundamentalismo e espiritualidade libertária.

Janet: Ainda há muitos problemas na moderna Arte/movimento pagão. A maioria das pessoas ainda está jogando jogos infantis do tipo "eu tenho segredos maiores que os seus". Aqueles pagãos que ainda jogam esses jogos mentais não apenas desaparecerão do cenário, mas também qualquer tradição que tenham começado. Com sinceridade e comunicação, a Arte sobreviverá sem conceitos desgastados e segredos cochichados nos cantos. Caso contrário, ela morrerá. Como Stewart disse: "A Arte é como um teatro fascinante... E em suas asas os deuses riram alto repelindo a arruinando o show".

Gavin: Há uma necessidade de honestidade a respeito de nossas raízes e outras tradições que reivindicam herança. Se nós não formos honestos sobre nossas raízes,essas tradições entrarão em colapso sob as mentiras que têm acumulado sobre si. Sem essa consciência de honetidade, os danos passados não poderão ser curados e não haverá crescimento nem evolução.

Janet: É como uma grande árvore com raízes fracas: a coisa toda entrará em colapso.

Gavin: Sim, mas não estamos afirmando que algumas tradições wiccanas devem estar se consentindo com o colapso. Nós acreditamos que os que estão dentro dessas tradições devem estar cientes de suas fraquezas e não devem jogar areia em seus próprios olhos, ou nos de ninguém, para o bem da tradição. Afinal, eles não estão salvando as raízes da árvore se eles não reconhecerem que há um problema.

5 - Mas de um modo geral, então, com algumas reservas, vocês também, assim como Stewart, estão confiantes de que a Bruxaria Moderna tem um futuro? Quais os rumos que a Arte tomará no século XXI?

Gavin: Há uma necessidade por variedade se a Bruxaria está evoluindo. Essa evolução, contudo, é ditada pelo meio sócio-geográfico. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde temos dado várias palestras e workshops, temos presenciado o recente desenvolvimento - temos observado grandes diferenças. Há diferentes conjuntos de leis e costumes em cada estado. É verdadeiramente uma federação de estados.Em alguns deles há mais repressão religiosa que nos dias de Gerald Gardner. Lá, covens têm juramentos severos de segredo e precisam existir às escondidas devido a essa opressão religiosa. Isso tem tido uma grande influência no desenvolvimento da Arte por lá.

Por outro lado, no Norte da Califórnia, por exemplo, a atmosfera é muito mais aberta e por isso as pessoas podem expressar-se mais livremente. Por um lado, a Wicca é um "animal político" e pessoas como Starhawk têm tido uma boa influência por lá. Não é esse o caso na Carolina do Sul, Geórgia ou Luisiana, o tão chamado Cinturão da Bíblia. Covens têm evoluído e se adaptado, comforme o caso.

Na Europa também, a Bruxaria se desenvolverá de forma diferente em cada país - pode ser mais ou menos hierárquica, mais ou menos aberta, dependendo dos costumes religiosos e da liberdade. Leis civis afetarão o status de cada grupo e tradição. Mas o que parece ser a tendência geral do mundo todo é a idéia de um "Coven Baseado na Tradição" - e o desenvolvimento de um baseado na linhagem. Linhagem está se tornando menos importante e menos essencial. Como a consciência por mais honestidade surge, nós veremos que só material relevante será passado, ao invés de princípios dogmáticos.

Janet: Pessoas jovens não estão tolerando bobagens.

Gavin: Haverá menos mistério e menos segredo. Provavelmente nós veremos uma grande mudança em direção à especialidade - covens que estarão interessados em uma especialidade particular, tal como a de curar. Haverá menos segredo e menos regras, como pessoas concentradas em seus pontos fortes.

Janet: Sem dúvida isso tornará possível um maior movimento entre os covens - também para treinamento.

Gavin: Eu não tenho nenhuma dúvida de que grupos de covens formarão redes livres nas quais eles poderão trocar informação. Então, não será tão importante de onde eles vêm. Provavelmente muitas tradições nascerão até realmente tornarem-se livres... Nos últimos cinco anos, cerca de 15 ou 20 tradições surgiram - me admira saber quantas ainda estarão por aqui nos próximos cinco anos.

6 - Você pode nos dar um exemplo de Coven Baseado na Tradição?

Gavin: Um que se distingüiu é o Blue Star Coven, nascido do The Paganway, um grupo de Nova Iorque formado por Herman Slater. Mais tarde ele evoluiu para o Blue Star Coven, operado por Tzsipora Klein. Agora ele é uma rede livre de covens.

7 - Você quer dizer no sentido de Corporações?

Gavin: Talvez uma espécie moderna de corporação. Eu não creio que Alex alguma vez pretendeu uma coisa tal como a tradição "Alexandrina" - de fato, num artigo recente para "The Wiccan", Maxine Sanders afirmou que esse termo foi uma criação de Stewart; isso nos fez rir muito, e foi sugerido, de brincadeira, que nós recebêssemos direitos sobre o nome. O mesmo aplicou-se a Gerald Gardner. Foi dito que "Gardnerianos" era um termo abusivo imaginado por Robert Cochrane. Esses termos são rótulos que estão gradualmente se tornando irrelevantes. As pessoas estão começando a julgar as bruxas por sua ética e por sua prática. Lentamente o Paganismo está começando a crescer.

8 - E sobre critérios então?

Gavin: Um código de conduta e comportamento nascerá dessa rede. Outo exemplo é o COG (Covenant Of The Goddess).

9 - Onde um processo de auto-regulamentação é a força motriz, ao invés de diretrizes de cima? Isso poderia ser visto como mais natural, uma abordagem vital.

Gavin: Talvez seja um declínio no interesse rápido e então haverá uma nova revolta. Certamente como uma onda em movimento. Uma das coisas que será perguntado é: onde a Wica se ajustará na comunidade pagã? Qual é o status legítimo? Poderá ser ambos, uma religião de mistério e desempenhar um papel ecumênico? Eu penso que haverá mais diálogo e comunicação interconfessional sobre questões comunitárias e filosóficas.

10 - O Paganismo tem feito parte da contracultura por muito tempo e agora está se movendo para a fase adulta. Seu tema central tem sido uma ligação direta com a Divindade, mas talvez não seja realista pensar que todo mundo compartilhe dessa visão. Algumas pessoas verão sacerdotes e sacerdotisas wiccanos/pagãos agindo como intermediários, por exemplo em handfastings, abençoando crianças e nos ritos funerários.

Janet: Estamos sempre oferecendo ajuda a pessoas que poderiam de outra forma sair do frio. Na Irlanda, por exemplo, nós trabalhamos com um sacerdote brâmane, porque ele não tinha nenhum templo naquele país para praticar a sua religião.

Gavin: Não há laicidade dentro da Wica. O caminho sacerdotal deve ser um caminho iniciático - ainda há necessidade de encontrar o compromisso. E nossa primeira conexão é com o Espírito. Mas há modos diferentes de se fazer isso. Ainda é preciso personalizar o modo de organizar a si mesmo e a "rede" pode prover uma direção. Por exemplo, pessoas de etnias diferentes podem ser orientadas.

11 - Em outras palavras, treinamento pode ajudar cada pessoa a vir a conhecer seus ancestrais?

Gavin: Sim, mas treinamento pode ser apenas um guia. Um mentor pode apenas ensinar a pessoa como exercer o papel de sacerdote/sacerdotisa. As técnicas básicas de reativar a ligação com os ancestrais são mais importantes. Não se trata de uma coisa racial, porém uma questão de reativar a "antiga memória". Treinamento é essencialmente aprender pela experiência. Nós somos servos do Deus e da Deusa e somos também servos da comunidade pagã. Tanto quanto somos servos da humanidade e nesse sentido o sacerdócio não é um "clube de elite".

Janet: Desde que as pessoas compreendam isso, haverá um grande crescimento saudável. Até agora tem havido muitos viajantes do ego que tem abusado de seus poderes. Eles realmente são indivíduos problemáticos.

Gavin: Existe alguma dor envolvida - as chamadas guerras de bruxas podem agir de um modo catártico causando problemas. Os Deuses Negros têm um modo de cortar as ervas daninhas e esse processo já começou.

12 - Uma questão de princípios então?

Gavin: Tem havido sempre um conjunto de princípios éticos através dos séculos e eles são importantes a despeito das tendência modernas. A doutrina wiccana "se não causar mal a ninguém, faça o que quiser" ainda é básica, e um princípio ético altamente importante.

13 - O que acontece no caso das pessoas que ultrapassarem esse princípio?

Gavin: As pessoas causam danos; isso é um triste fato da vida. Mas nós devemos ver isso como parte do processo de aprendizado. Aqueles que foram feridos precisam reconhecer que o que eles têm tido é uma negativa (subjetiva, dolorosa, danosa) lição que eles também podem aprender. Eles precisam transformar a experiência dolorosa em alguma coisa positiva que os torne mais fortes. Dessas experiências eles podem aprender lições importantes sobre ética e princípios, e mais importante, sobre os aspectos negros do self - a Sombra de Carl Gustav Jung.