Bruxaria Tradicional Para Iniciantes

Na mais absoluta realidade, os bruxos ‘não wiccanos’, tradicionais só saíram do armário depois de Gardner, antes disso não precisaram levantar qualquer bandeira para chamar a atenção sobre si. Neste aspecto, Gardner foi fundamental, assim como havia sido Crowley, um âmbito mais amplo, social, mais do que religioso ou mágico. Bruxos nunca estiveram ligados a movimentos separatistas, quando passaram a se unir sob o rótulo “Bruxaria Tradicional” tiveram o propósito único de não deixar certas práticas regionais – culturais - morrerem. ‘Bruxos’ nunca se uniram para cair na armadilha de ‘destruir a oposição’, que faz nada mais do que afirmar seus valores.

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3 de julho de 2011

Katy de Mattos Frisvold

Saudações a todos, eu recebi permissão para publicar a entrevista que o Draco do Blog Crux Sabbati fez com a Bruxa Tradicional Katy do Blog Diablerie, prometo que irei trazer a entrevista para o nosso Clã, mas antes disso quero disponibilizar uma entrevista que fiz com a mesma e que ficou muito interessante, e bem pessoal... Espero que gostem, pois a mesma foi feita com muito carinho!


Todos os Clãs: Nome Civil
KMF: Katy de Mattos Frisvold

Todos os Clãs: Idade
KMF: Você não acha rude perguntar a idade de uma mulher? :D

Todos os Clãs: Nome Pagão
KMF: Eu tenho mais respeito aos nomes iniciáticos, e então prefiro não revelar. Nomear é ter poder sobre algo ou alguém. Contudo, as pessoas já me conheceram por apelidos tais como Tzillah, Mab e Qelimath.



Para abrir irei fazer três perguntas, que de certa forma são chaves...

A- O que é uma Bruxa especificamente:

KMF: Eu acho que já escrevi tanto sobre isto que me sinto esgotada ao me repetir. Mas vamos lá trocar toda a história e mitologia em miúdos: uma Bruxa é um ser estranho, que não se “molda” ao mundo civilizado, e embora possua um pé neste mundo civilizado, possui o outro no mundo natural. Exatamente porque está sobre esta cerca entre os dois mundos, consegue com certa facilidade ver um terceiro mundo, onde estão os gênios, elementais, os mortos e as deidades. Esta “terceira visão” costuma se manifestar muito cedo na vida das pessoas, o que acaba gerando uma personalidade mais refletida, introspectiva, e até uma espécie de deslocamento social. Bruxos que despertaram na infância não são pessoas muito populares. Aprendemos desde cedo a sermos procurados quando as pessoas têm problemas, e são estas mesmas pessoas que antes, ou às vezes depois, descartam nossa Arte como pura superstição, até que elas estejam no meio de uma nova enrascada. A sociedade não consegue nos entender porque nossa perspectiva sobre o mundo é diferenciada, rica em diversos aspectos. Não vivemos em um mundo completamente material, plano e linear, e costumamos não dar a mesma importância às coisas do que o resto da sociedade.

B- Qual o Grau de Importância de uma Bruxa para planeta:

KMF: Nenhuma, e ao mesmo tempo, toda. O planeta vai continuar se a humanidade desaparecer e então acho que primeiramente devemos ter a proporção certa do nosso tamanho. Por outro lado, o processo de cura que a humanidade terá que passar deve partir de pessoas conscientes, refletidas, e assim, acredito que todos os místicos, religiosos, espiritualistas, etc. – incluindo “bruxas” de todas as vertentes, possam ajudar a curar a humanidade “de dentro para fora”. É conveniente dizer que o trabalho começa por nós mesmos, cuidando de nossos jardins, de nossas vidas, e parando de encontrar a culpa nos outros. Se você está mal resolvido com a sua vida, como poderá ajudar a algo ou a alguém? Ninguém dá o que não tem para si. Bruxas são “solanáceas da civilização”. Somos cura e veneno, porque uma coisa não existe sem a outra.

C- Bruxas seriam agentes da Natureza?:

KMF: Não. Todos nós SOMOS Natureza, mas falar que “representamos” a Natureza é um pouco forçado. Como disse antes, uma “Bruxa” é alguém que tem um pé na Natureza e outro na civilização. Meio bicho e meio gente. Gostamos do conforto que ambas oferecem. É assim que ganhamos perspectiva em ambos os mundos: o que é natural e o que o homem cria para si.

Todos os Clãs: Como foi sua infância?

KMF: Bem, este assunto é bem amplo. Minha infância foi muito dura em muitos aspectos e isso fez com que eu amadurecesse muito rapidamente. Eu tinha um pai difícil de lidar e uma mãe que era muito doente. Tenho três irmãs, todas mais novas do que eu, e lógico, sempre sobrava a tarefa de olhar por elas naquele universo de dificuldades. Todas as irmãs – as quatro, tinham grande facilidade de ver e ouvir espíritos e isto sempre gerou um bocado de medo. Por outro lado, o fato de nunca ter sido obrigada a me converter a uma religião e de ter à mão uma farta literatura espírita – geralmente através de minha avó que também possui os mesmos dons – ajudou muito nesta fase. Cresci lendo muito porque esta era a única “fantasia” que a realidade permitia. Eu fui a várias missas da Igreja Católica Apostólica Romana, mas no período em que freqüentei, ela não me ofereceu qualquer resposta satisfatória sobre aqueles fenômenos que experimentávamos. Apesar do pai “difícil”, foi através dele que pisei pela primeira vez em um terreiro de Candomblé, que pude vivenciar a Kimbanda, que ouvi falar da Maçonaria, etc, foi através dele que pude lidar com as visões... Da parte da minha mãe, meus avós eram conselheiros espirituais da pequena comunidade japonesa em que viviam: meu avô rezava missas de sua religião, e minha avó era uma hábil parteira e professora de Ikebana. Comecei a trabalhar aos 12 anos de idade. Este foi o último ano da minha “infância”. Hoje minha mãe é terapeuta holística, e ela me diz que sofreu até compreender que sua missão era justamente aquela exercida pelos seus pais. Eu entendi desde criança que os dons chegam com um preço a ser pago.

Todos os Clãs: Se você pudesse voltar no Tempo, o que você mudaria? Sendo que você sabe que isso causaria uma mudança significativa nos seus dias atuais...

KMF: Olha, eu acho que não mudaria nada. Cada obstáculo que tive na vida me fortaleceu e faz parte de quem eu sou. Sabedoria é uma questão de aceitação dos obstáculos como forma de obter conhecimento, o que gerará, por sua vez, mais sabedoria. Temos que aprender e seguir adiante, tomando as rédeas de nosso próprio destino. Geralmente o problema é exatamente não conhecermos nosso destino, porque não sabemos de onde viemos e não reconhecemos nossos ancestrais. Uma vez que este reconhecimento ocorre, a vida fica muito mais simples. Há um ditado tradicional que diz o seguinte: “Se você não sabe de onde vem, nem para onde vai, qualquer caminho servirá”.

Todos os Clãs: Você é uma Bruxa que foi iniciada e treinada em algumas vertentes mágicas, poderia nos falar sobre?

KMF: Eu fui muito afortunada com oportunidades espirituais. Mas não foi sempre assim. Como a maioria das pessoas, enfrentei portas fechadas, charlatões, e uma série de conflitos, internos e externos, na minha busca espiritual. Não foi sem muito trabalho interno – o principal trabalho - que finalmente fiquei pronta para que tudo isto se abrisse na hora certa. Por diversas vezes, desde que comecei minha busca com sinceridade, recebi iniciações que não esperava receber. Elas simplesmente “caíam em minhas mãos”. Isto contrasta muito com o período que passei implorando aos deuses que este caminho fosse aberto. No final das contas acabei me casando com outro bruxo muito mais conectado, que já havia circulado ordens ocultistas internacionais de renome, e que me apresentou a Bruxaria Tradicional entre outras tantas coisas. Como sei muito bem da dificuldade que existe em encontrar estas portas, acho problemático revelar qualquer outras que não sejam de conhecimento já público. Isto porque gera uma tremenda resistência da parte de muitas pessoas, que não entende a função da iniciação como uma ferramenta de se conectar a uma determinada ancestralidade (ou ancestralidades). Iniciação não confere a ninguém mais caráter, mas te dá um início e te provê das ferramentas necessárias para esta jornada.

Das que são de conhecimento público, eu posso falar. Eu comecei com Wicca, um assunto que vim a retomar mais tarde, e parti para Obeah, (a feitiçaria de Trinidad Tobago), depois de casada me encantei com o culto de Orixás da maneira em que é feito na Nigéria (bem distante do Candomblé), e fui iniciada primeiramente para Oxum, e mais tarde para Ifá e Iyami. Neste meio tempo, recebi o Ason em Voodu Haitiano de uma casa tradicional haitiana, e também as tão esperadas iniciações na Wicca Gardneriana e Alexandrina. Fui iniciada em algumas ordens ocultistas (de magia cerimonial) porque sempre quis acessar seus preciosos materiais, alguns de incrível antiguidade, e também recebi algumas ordenações que provaram ser muito práticas. Quando fundamos a Via Vera Cruz, buscávamos desenvolver um foco de poder que abraçasse as diversas correntes de poder e sabedoria que fluíam de nós mesmos e de outros que vinham com suas próprias correntes, e foi desta forma em que a Via acabou abraçando “parentes” italianos, bascos, ingleses, eslavos, etc. Foi assim que o Clan of Tubal Cain também entrou em nossas vidas. Temos muito orgulho de ter realizado isto em solo brasileiro, desde que é uma terra que tem o talento natural de dar as boas vindas a qualquer povo e tradição.

Não me esqueço jamais o início de tudo isto: meu caminho na Bruxaria começou com uma singela “auto-iniciação”, que mais tarde aprendi que se tratava de uma “auto-dedicação”. Hoje sei que ninguém “se” inicia porque iniciação tem que ocorrer horizontalmente e verticalmente. Ou seja, pelos ancestrais e/ou deuses.


Todos os Clãs: Você é casada com grande escritor Bruxo, esse mesmo que escreveu diversos títulos inclusive “Invisible Fire” e “Artes da Noite”, como é viver em uma família mágica? Como vocês se conheceram?

KMF: Eu já havia obtido um resultado mágico absurdamente maravilhoso: consegui sair da loucura de Sampa para morar em Atibaia, empregada na mesma empresa que trabalhava. Como este “interior” não era tão longe de Sampa, eu estudava magia com um professor particular, e ele estava conectado ao Nick justamente pelo vínculo espiritual que eu buscava, a Obeah. Em uma visita do Nick este professor propôs que ele conhecesse um pouco da nossa Natureza – algo complicado de se ver em Sampa. Como eu era uma dos poucos alunos que falava inglês e morava em uma área verdejante, fui convidada a “ciceronear” aquele que mais tarde se tornou meu marido. “Piramos” um pelo outro já no dia em que nos conhecemos. Casamos-nos seis meses depois e continuamos loucos um pelo outro.

Viver com uma família mágica é uma benção. Aprendemos muita coisa dentro da própria família. É muito confortável porque todos estão focados no mesmo objetivo, e ninguém se sente só porque cuidamos uns dos outros. Cada novato possui um tutor, e a velocidade em que ele se desenvolve no caminho sempre depende dele próprio, das relações que ele desenvolve com seu tutor e com a família, e lógico, de sua sintonia com o ponto de poder. Entrar na família é mais simples do que se pensa, receber o empowerment é um pouco mais duro, e sair da família é simplesmente impossível, o que dá uma segurança tremenda não só à família quanto ao próprio novato.

Todos os Clãs: O que você falaria para as novas e novos Bruxos que “Despertam” no século 21?
KMF: Para os muito jovens, que não se adiantem. Sempre há tempo para entender e ter certeza das renúncias que fazemos e dos compromissos que firmamos. Acho que isto seja importante comentar por que existem muitos adolescentes que chegam a estas vias esperando efeitos especiais e acabam presos em armadilhas emocionais dentro de pseudo-religiões.
Para os mais velhos, que reflitam no fato de todos termos duas orelhas e dois olhos, e apenas uma boca. Quem quer aprender não sai “peitando” quem sabe para aprender as coisas sangradas no tapa. Com certa constância vejo iniciantes e pessoas menos experientes incapazes de reconhecer um ensinamento, de dar valor ao professor ou até mesmo de agradecer.

Todos os Clãs: Nos últimos anos tem havido uma certa disputa entre “Bruxas” de varias tradições, credos, preceitos... Aqui no Brasil! O que de alguma forma caracteriza uma “Guerra de Bruxas” no seu ponto de vista como pessoa, bruxa... Qual o motivo disso? Se tivesse ao seu alcance fazer algo que acabaria com tal “Guerra de Bruxas” o que você faria?

KMF: Eu compreendo o orgulho e carinho que as pessoas possuem de suas próprias tradições, mas é evidente que quanto menor a tradição, quanto menos relevante ela é no esquema geral e quanto menos sábio é seu mestre, mais confusões são arranjadas a fim de obter-se alguma notoriedade e respeito. É como se estas pessoas vivessem em um mundo onde é necessária a resistência, a oposição a algo ou alguém. Elas precisam de um Diabo, um bode expiatório. Este é o maior gerador de guerras, não só no meio virtual, mas bem reais, com ataques mágicos. Porém, é uma minoria que sabe atacar magicamente, que realmente tem talento para isto, o que é de certa forma um pouco divertido de se observar. É aqui que vemos aqueles que dizem as palavras certas, mas são incapazes de conjurar o que quer que seja. Eu aprendi, por exemplo, que caráter é a verdadeira chave do poder. Mas quantos destes que erguem os “flames” têm isso? Muita gente compra uma “guerra bruxa” por puro sentimento de inferioridade, achando que é o outro que se sente superior, arrogante ou elitista. Outros entram no arrastão dos outros, sem compreender os reais motivos por trás das palavras.

Bem, sobre o que eu “faria”, eu acho que já faço: cuido do meu “jardim”, recebo bem aqueles que vêm me procurar com mente e corações abertos, escrevo um bocado de ensaios para ver se a NOSSA consciência se eleva... e quem quiser mudar, que fique a vontade. Eu penso que é uma questão de identificar o verdadeiro inimigo, o opositor dentro de nós mesmos, de paramos de lutar contra a “galhada” que os outros querem nos dar. Aqueles que nos apontam os dedos estão apontando três de volta a eles mesmos, e às vezes somos apenas um reflexo de suas próprias feiúras, de suas próprias fraquezas e visões distorcidas da vida. A diferença está no “engajar”, ou dar importância àquela criatura que está pedindo por isto. É saber escolher, e decidir se esta pessoa é digna ou não de ser seu aprendiz – seja pelo amor ou pela dor que só o amor permite. Existem certas generosidades que são extremamente doloridas.

Todos os Clãs: Poderia fazer algumas considerações finais?

KMF: Sim, com duas outras palavras. Aos mestres e sacerdotes, que se lembrem que uma iniciação é um início e não o “coroamento” de ninguém. Somos eternos aprendizes. Se querem um grupo unido pela paz, amor e confiança, sejam os primeiros a agir de acordo. Não cobrem de seus aprendizes o que vocês não são capazes de demonstrar. Gentileza é tudo! Aos que estão na busca de uma “família bruxa”, que não tenham pressa para não caírem em qualquer arapuca. Caráter é tudo, e às vezes o caminhar solitário pode nos levar muito mais longe.

Todos os Clãs:  Para quem quiser entrar em contato com você, como proceder?

KMF: Bem, eu não me escondo. Escrevo no meu blog www.diablerie.com.br, dou consultas mensalmente em um espaço da cidade de São Paulo (podem ser agendadas pelo telefone 11-5589-5375 ou 5594-7060). E-mails de pessoas interessadas em bruxaria eu normalmente repasso diretamente para a Chanceler da Via, pois não é minha função fazer os primeiros contatos, à menos que tenha um interesse pessoal naquela pessoa especificamente. Mas em todo caso, aqui está meu endereço de email: qelimath@gmail.com

O Todos os Clãs agradece sua participação, eu também.

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